JOSÉ ROBERTO WALKER
Lembranças de São Paulo
Crônicas sobre a cidade de São Paulo
por José Roberto Walker
No ano de 1822 quando o príncipe D. Pedro visitou São Paulo e declarou o Brasil independente de Portugal, a cidade estava longe de ser grande ou importante, mesmo para os padrões limitados da época. Tinha mais ou menos oito mil habitantes e ainda repousava, num sono de séculos, sobre a colina da sua fundação, cercada pelos rios Tamanduateí e Anhangabaú.
Não passava, na realidade, de uma vila.
Possuía 38 ruas e sete largos, alguns de poucos metros. Eram 14 as igrejas. As ruas, em geral sem calçamento e as casas baixas de taipa, como no tempo dos bandeirantes. Sobrados, poucos e de taipa também. Só havia um carro particular, o coche do bispo D. Matheus. Para entrar e sair da cidade, quatro pontes, duas no Tamanduateí e duas no Anhangabaú, além do Caminho de Carro para Santo Amaro. Caminho de carros de boi, que fique bem entendido. Havia noventa e dois comerciantes de fazendas secas e molhadas, sete médicos, três boticários e apenas nove professores, sendo três de primeiras letras. A água era um problema e o seu abastecimento precário, motivo de constantes queixas da população.
Ansiosa para receber o Príncipe, a Câmara Municipal destacou um vigia, que se instalou no alto da torre da Igreja da Boa Morte. De lá, ele podia ver a comitiva que se aproximava, vinda dos lados do Ipiranga. Sua função era tocar os sinos da pequena igreja e assim avisar a cidade da visita real.
Na noite de 7 de setembro houve gala na Casa da Ópera, o pequeno teatro que existia desde o século 18 no Páteo do Colégio.
Os homens da elite paulista lotaram a plateia e aclamaram o jovem Príncipe. Só os homens, porque na São Paulo daqueles tempos as mulheres ainda não podiam frequentar os teatros.
Foi nesse dia e nesse lugar que o Brasil começou a sua vida independente.